outroscaminhos @ 16:01

Sab, 08/03/08

Há sempre o sol que não se apaga da vista. O som que se ouve com os ouvidos tapados. A voz de dentro da consciência -  que nada é senão um outro coração - que nunca dorme. E existe, como que uma criança adormecida, em cada alma, uma pátria, ainda que queimada.

Uma mentira é uma verdade que nunca se concretizou e por isso é pouco. Não é económico o suor da mentira: ouço Fernando Pessoa e há algo em mim que desperta. É um qualquer orgulho, um qualquer conceito de dignidade que existe no mundo e não em mim. A Mensagem desperta, mesmo em negação, o velho e corcunda orgulho português. A melhor maneira de não ceder a uma paixão é perceber o seu início e o seu começo. Descodifiquemos então: a exaltação da conquista não pela força física, mas pela astúcia, pela vontade de sonhar e ambicionar o sonho. Ou então a explicação para apatia que vejo espalhada nas paredes e nas pessoas: estão a morrer para renascer. No fundo, abandonamos uma ideia quando ela não se espalha pelo mundo e, de facto, Lisboa já foi deposta do seu reinado marítimo há caveiras de séculos.

Mas herdei, ou nunca consegui apagar, o sorriso colectivo da Batalha de Aljubarrota e daquela técnica do quadrado que é a mais bela estratégia militar. Ou então, o primeiro país a abolir a escravatura. Ou a resistência aos invasores porque D.Sebastião voltaria um dia; ou a revolução feita, tantos anos mais tarde, sem sangue. O mito sebastianista salvou Portugal duas vezes. Falta a terceira...

Porém, o nós é antagónico. Não é este Portugal o lar idealizado. Não foi por este que Miguel de Vasconcelos foi odiado  e morto sem  compaixão. Falta-lhe a crença em sim mesmo, a visão de si próprio como um Messias (nós somos a nossa única salvação, sempre). Está derrotado, acabado, finalizou o seu tempo no mundo. Esqueceu-se do ciclo e do triângulo, esqueceu-se da Fénix. E esqueceu que foi abençoado por Ulisses.

E esqueceu-se de mim e do meu patriotismo baseado nos seus feitos históricos que são magníficos porque não carregam consigo rios imensos de sangue. Esqueceu-se de si próprio, de tanto ter sido violentado. E se Portugal se abandona a si próprio, onde está o profeta Pessoa e o Messias ?

O meu patriotismo está morto. Acredito num Messias que está impedido de nascer.

Maria InEs


música: chorai lusitania- moonspell

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