Tendia para Ricardo Reis. Mesmo antes de o conhecer, sempre pôs tudo o que era no mínimo que fazia , sempre apreciou Epicuro e a teoria do prazer moderado. Sempre fechou os olhos á vida quando a turbulência era estonteante.
E , curiosamente, sempre esteve muito próximo de Alberto Caeiro, amou muitas vezes sem perguntar a origem, sem procurar a razão. Isso arruinaria o aproveitar do momento. Estrelas, às vezes, limitam-se a iluminar a noite de breu do interior dele. Com o passar dos milhares de segundos, aproximava-se do cansaço de Campos. De Pessoa, só herdou o gosto pelo choque.
Definia-se assim. Foi a maneira que arranjou para fazer a sua autobiografia. E orgulhou-se da sua originalidade: ele era estranho, porque era ameno, seguro, quase imparcial. Era um paradoxo e gostava dos paradoxos de Pessoa.
Suspirou e largou o papel rabiscado. O orgulho dele era relativo , não era presunção era estar confortável consigo próprio. Bem diferente do que sucede com o resto do mundo que se orgulham de serem tacanhos. E esperam o reconhecimento social.
Tendia, sobretudo, para Reis. É pacifico, pacato - não tenciona tornar-se no poeta pagão – mas considera-o, talvez, o seu mestre. Não se afasta de Caeiro, ironicamente, interliga-os perfeitamente na imperfeição do seu Ser.
Ri-se. Que mais pode ele fazer? A originalidade, ele sabe, sai-lhe muitíssimo caro.
Maria Inês (L.C.)