Nada temas que deste lado do rio ninguém te condena, ninguém recolherá a mão no instante da oferta de ajuda. Aqui, também somos como tu, também somos fugitivos que encontraram na fuga a coragem de viver. Quem vive sob represálias e opressões não vive na sua plenitude, não vive completamente, existir não é a mesma coisa...
Nada receies, aqui deste lado do mundo banhado pela sombra, somos todos amigos. Nenhum de nos te apunhalará e nenhum de nos te olhará com desdém. Aqui, deste lado do espelho, não temos nem as riquezas nem as regalias dos outros, mas tudo o que damos é dado realmente, a única coisa que se espera em troca é o respeito silencioso .Mas sim é verdade, pouco ou nada temos a oferecer.
Porém, vejo no teu gesto mais simples que nada mais queres do que ser tu, aceitar os outros e ser aceite, manter a terra redonda, manter o céu e mar de tons de azuis diferentes. Nada mais és senão a pessoa de pensamentos reflexivos, tens a tua consciência que te serve de guia. Pertences aqui, ao lugar dos renegados.
Os teus olhos estão cansados e brilhantes, esperam ainda o fogo da vida. A tua face pálida carece de Sol, que aqui não existe. Em parte condenaram-te... Os Outros, ocos por dentro e disformes por fora, arruinaram-te. Mas milagre humano e credível, sobreviveste, levantaste-te; roubaram-te, mas não levaram o essencial. Na verdade, és um obstáculo para os outros, os do Outro Lado. Diminui-los, reduze-los a cinzas, mostras-te grande na tua simplicidade profunda. Não ,não sou como tu, nasci já deste lado do espelho...E além disso, fui soldado de guerra, aprendi a fuzilar.
Nada temas, que deste lado todos temos cicatrizes deixados pelas lutas com os Outros, umas maiores e mais frescas que outras. Seja de qualquer forma, deixámos o sangue nas praias, calcado nas rochas. Agora renovámo-nos. E recebemos-te verdadeiramente. Aqui não há instrumentos de tortura. Descansa em paz, irmão.
Maria InEs C.
Pois é! Faz hoje precisamente um mês que cinco aventureiros embarcaram numa viagem pelo centro Norte de Portugal em que ninguém imaginava o que iria acontecer. Certo é, que cada momento era marcado por uma onda de riso que custava a cessar.
Todos os dias ocorreram situações que de uma forma ou de outra marcavam o momento. Claro que tudo de uma forma bem-disposta e divertida. Desde o choque que deixou os dedos da Telma pretos e deitou o quadro abaixo, até ao colchão em que ninguém queria pegar, passando pela situação do restaurante fino onde se trocaram os copos, talheres e todos aqueles materiais complexos, o grito da Joana com o jogo, o varão que cai a meio da noite, enfim... todo um conjunto de situações incompreensíveis para pessoas que se consideram “normais”, mas muito hilariantes para os cinco malucos.
Certo é que cada momento foi aproveitado como único e passavam-se 22 horas por dia (sim porque pouco se dormia) de uma forma muito divertida e alegre.
Os sítios onde fomos e que ficámos a conhecer foram uma autêntica surpresa: andar no cume da Serra da Estrela com ventos superiores a
Apesar de tudo podemos dizer que foi uma viagem que nos marcou muito. Ainda hoje damos grandes gargalhadas relembrando situações passadas, e tenho a certeza que daqui a uns anos, quando nos encontrarmos e relembrarmos toda esta aventura a frase que vai ficar foi que "FOI PORREIRO PAH".
Amadeu Martins
É o criador do fogo,
O purificador e o Condenador.
Está-lhe no coração, quente
E perigoso como a
Ilusão lúcida.
É senhor do Mar,
Domina-o,
Porque o conhece.
Está-lhe nas veias,
É guerreiro de Sangue,
Mas a sua alma é azul
Transparente.
A terra pertence-lhe, porque
São um só.
Cumprem o ciclo. Um
Gera outro.
Mas divide-se em metades,
Terá sempre a terra de cor
Humana,
Olhará sempre o Céu
Olímpico.
Nasceu Homem, e não
Pássaro de Fogo.
Esta só no mundo,
Ninguém compreende
O Ícaro Bélico
Que carrega em si.
Hoje vou esquecer os problemas e as preocupações. Não me vou preocupar com as horas, com os outros ou com o que virá a seguir. Hoje só existo para ti e por ti.
Hoje quero ouvir o teu riso, quero olhar-te nos olhos e ficar em silêncio, porque não é preciso dizermos nada. Esse olhar vale mais que mil palavras. Quero ouvir as tuas palavras doces enquanto mexes nos meus cabelos e quero que me abraces para me sentir pequena, segura e protegida.
Hoje vou ouvir tudo o que tens para dizer, sem pressas nem interrupções porque hoje tenho o tempo todo só para ti. Vou segredar-te ao ouvido o mesmo de sempre e vou agarrar a tua mão como sempre faço.
Hoje tudo é perfeito, cada sorriso, cada gesto, cada palavra e tudo porque só existimos nós os dois e porque nada mais importa. O melhor de tudo é que tenho a certeza de que este hoje não vai terminar. Eu vou existir sempre só para ti.
Ana Silva
Desejava que pudesses ver....
A tristeza de um homem de negócios quando o trabalho da sua vida desaparece em chamas, ou uma família que regressa
a casa e apenas encontra a sua casa e os seus pertences danificados ou destruidos...
Desejava que pudesses saber....
O que é procurar num quarto a arder por crianças presas, as chamas por cima da tua cabeca, as palmas das mãos e os joelhos a queimaram enquanto tu rastejas, o chão a ranger com o teu peso, enquanto a cozinha arde por baixo de ti.
Desejava que pudesses compreender....
O que é ir para uma casa a arder e ter de tirar de lá colegas bombeiros
porque não conseguiram sair.
Desejava que pudesses compreender...
O horror de uma esposa quando ás 3 da manhã verifica que o marido nao tem pulso...
Início o S.B.V.(suporte básico de vida) na mesma, esperando uma hipótese muito remota de trazê-lo de volta, sabendo instintivamente que era tarde demais,mas querendo que a família soubesse que tudo o que era possível foi feito.
Desejava que pudesses saber ....
O cheiro único de uma queimadura, o gosto da saliva com sabor
a fuligem, sentir o intenso calor que passa através do equipamento, o som dos estalos das chamas, a sensação de não conseguir ver absolutamente nada através do fumo denso ...
Desejava que pudesses compreender ....
Como nos sentimos ao ir para o trabalho ou escola de manhã após passarmos a maior parte da noite suando com o calor de
Desejava que pudesses ler ....
O meu pensamento
quando respondo a uma chamada para um edifício a arder.
"Será falso alarme ou um enorme incêndio? Como será a construção do edifício? Que perigos esperam por mim? Estará alguém lá dentro ou saíram todos?" "Ou para uma chamada de socorro," o que se passará com o doente? Será que a pessoa que telefonou está mesmo em apuros ou estará á minha espera com uma arma?".
Desejava que pudesses estar ....
Na sala de reanimação quando o médico decide anunciar a morte da linda menina de cinco anos que tenho tentado salvar durante os 25 minutos anteriores e que nunca irá ter o seu primeiro namorado, nem nunca mais irá dizer "gosto muito de ti, mãe"
Desejava que pudesses saber....
A frustração que sinto na cabina do autotanque ou da ambulância, o motorista com o acelerador a fundo, o meu braço a
tocar a sirene vezes sem conta quando não se consegue passar por um cruzamento ou no meio do trânsito.
Quando vocês precisam de nós, no entanto, o primeiro
comentário quando chegamos é "levaram muito tempo para cá chegar".
Desejava que pudesses ler ....
Os meus pensamentos enquanto ajudo a retirar os restos de uma jovem do seu veículo contorcido, "e se fosse a minha
irmã, a minha prima ou alguma amiga? Qual será a reação dos seus pais quando abrirem a porta e verem os polícias?"
Desejava que pudesses saber...
Como é entrar em casa e cumprimentar a familia não tendo coragem para lhes dizer que quase não voltei da última chamada.
Desejava que pudesses sentir ....
Os meus sentimentos quando as pessoas verbalmente, e ás vezes
fisicamente, nos maltratam ou subestimam o que fazemos, ou quando têm a atitude "isto nunca me aconteceria".
Desejava que pudesses perceber ...
A instabilidade mental, emocional e física de refeições perdidas, sonos perdidos e a falta de actividades sociais associadas todas ás tragédias que os meus olhos já viram.
Desejava que pudesses saber...
A irmandade que existe e a satisfação de ajudar a salvar uma vida, a preservar as coisas de alguem, a estar "lá" nos tempos de crise ou a criar ordem quando existe um caos total.
Desejava que pudesses compreender ....
Como nos sentimos quando temos uma criança a puxar-nos o braço e a perguntar "a minha mae está bem?" sem sequer se conseguir olhar nos seus olhos sem deixar cair umas lágrimas e sem saber o que
responder. Ou ter de segurar um amigo de longa data enquanto o seu companheiro vai na ambulancia a receber respiração boca-a-boca sabendo de antemao que ele não trazia o cinto de seguranca posto.
A menos que tenhas vivido este tipo de vida, nunca conseguirás entender verdadeiramente ou apreciar
O QUE NÓS SOMOS OU O QUE O NOSSO TRABALHO SIGNIFICAM REALMENTE PARA NóS...
Desejava que pudesses......Não é a farda que faz um bombeiro... é o espírito de entrega ao próximo e de sacrifício que faz o que somos...
Ana Margarida Pedro
A tua voz está no mundo
É o grito da borboleta
Ou o silêncio que nunca
Se concretiza na Estalactite
É o som da maré
É o renascimento da flor
Possui a harmonia da mentira
Real
É um arco-íris audível
Com uma cor solitária
A tua voz estaáem mim
Em todos os Luares Negros
Ouço-a no calcário
E na terra
Ilumina qualquer
Resto de Cemitério
Meu.
A tua voz só não está em ti.
Morreste. Para a voz
Dominar o Universo.
Aqueceste o mundo, gastaste a tua luz
Para quebrar o céu e o mar,
Abrir a Terra.
Fecha os olhos
Hoje faço-te companhia no sacrifício.
A tua voz está
Luz.
Hoje também
Me sacrifico. Para ouvir a tua voz
Antes de adormecer.
Ola o meu nome é Ninguem.
Costumava ser alguém na minha cidade,
até ter começado a perder o meu caminho.
Voltando ao passado, relembro o Alguém que fui.
A vida de alguém divertido e feliz.
Mas agora sou ninguém com prolemas,
e essa imagem so se resume a fotografias.
E vai-me deitando a baixo,
ver o mundo ás voltas e todos os meus sonhos a serem destruidos.
Existe Alguem que me consiga ver?
Porque eu não consigo ver-me.
Consegue Alguém sentir-me?
Porque não me sinto.
A perder o meu caminho..
Continuo a perder o meu caminho.
Tarde demais para me julgarem como Alguém.
Eu era uma menina.
E mais que o que podia fazer era dificil de esperar.
Mas foi isso qe não me fez ver os erros qe estava a cometer.
Assim termino acima de tudo Ninguém.
Um ninguém obrigado a crescer.
Em qe as coisas mais loucas eu provalvemente nunca saberei.
E isto tudo esmaga-me.
Perdoem-me se alguma vez errei,
porqe sei que todos os humanos erram.
Se pudesse voltar atras não conhecia metade dos Alguém e não me tornaria nunca um Ninguém.
Nádia Correia nº8