outroscaminhos @ 20:21

Qui, 06/03/08

 De manhã o mundo tem uma forma rectangular. Como se a mente tivesse sido esvaziada de todas as memórias que ajustam o mundo à sociedade. E à realidade cientifica. E é nesses momentos, nesses instantes em que a mente é limpa, que ele reflecte. É louco. Tem ideias estranhas, artísticas, revolucionárias que são recalcadas pelos calos do dia-a-dia espiritual. Repara como é insano, como é inconsciente. Imprevisível. Sim, vê-se como uma bomba relógio, como uma explosão atómica pronta a explodir quando estimulada. Dá voltas na cama, no espírito, o mundo está errado, ou então é ele um erro. Pior ainda, uma cobaia, uma experiência pequena. E pensar para quê? Claramente, o facto de ele pressentir que tem uma personalidade cobarde semi-heróica não lhe proporciona conforto. Nem do térmico. Antes pelo contrário, por mais que magoe e que rasgue os ossos, ignorância, por vezes, é felicidade. Ou pelo menos, não causa exaltações inúteis. Levanta-se da cama contra vontade, como se ao adiarmos o presente o futuro não chegasse. Mas ele levanta-se de um só pulo. O presente é pior que qualquer futuro tenebroso que tenha pela frente. O futuro, ele é capaz de o alterar, se o ângulo do Sol assim o quiser, o presente já está decidido. Olha-se ao espelho. O rosto é muito branco e os olhos azuis-escuros têm um brilho quase diabólico. É o brilho dos que necessitam de equilíbrio psicológico, pensa. Mas está enganado, é o brilho dos que vivem, o brilho nos olhos é a forma como a alma vê no mundo. Alma é vida e a vida é algo de místico. É de manhã e o dia está agradável (hoje Apolo está bem disposto). Arranja-se para sair. O vento ao bater na sua face diz-lhe que está vivo. Diz-lhe que ele existe e que o vento existe e que ele não está completamente perdido, não endoideceu indefinidamente. O vento é o abraço que a sua primeira mãe lhe dá – A que existe sempre, no passado e no futuro. E ele imagina-se a responder ao abraço sem mexer os braços, a sorrir perante o beijo materno. Encontra um sítio afável para beber café e senta-se na esplanada. O dia está bonito, o mar está magnificente. Suspira fundo, sorri levemente. A vida existe. Mas só porque ele é doido. Como poderão uns olhos que vêem sempre a mesma paisagem, que nunca brilham, que são apáticos, vazios, verem a existência do mundo? A Terra é redonda mas tem quatro cantos.

 

Maria InEs



Depois de concluirmos uma etapa, e porque a vida não pára, chegam novas aventuras e novas descobertas por novos caminhos....
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