outroscaminhos @ 20:07

Qua, 05/03/08

Ele era ligeiro no mundo, tinha um passo suave que em nada era um passo humano. A sua grandeza estava no sorriso melancólico de um Orfeu perdido. De um Aquiles derrotado em vez de morto.
Sonhava com o mundo, com o acordar para a janela que é sempre igual, mas que varia com a paisagem. É a mistura da metáfora calcária de Virgílio Ferreira e do paradoxo angustiante de Fernando Pessoa. É tudo, e não é nada. Conquista o mundo de uma outra forma, é mais romântico. Exige a força do amor. E lastima-o, porque o não vê espalhado pelas arvores e pelas flores efémeras nas florestas das ruas de pedra.
Perde-se a si próprio, no espelho vê o reflexo dos outros, os que não se calam enquanto a cabeça dele não lateja. Vê a podridão secreta do mundo, com todos os pecados que ele não comete. Olha-se e confunde-se.
A rua por onde passa é cinzenta e macilenta, habitada por bonecos de barro que fingem ser Humanos. Os gestos mecânicos e vazios em nada se assemelham aos dele, o Homem, que erra e ama; acima de tudo, a vida.
 
É ele, o herói inconsciente do quotidiano. Viver é algo de extraordinário e ele é sensível a uma gota de chuva; ele está em toda a Natureza. Tem um carácter divino porque é humano e os homens sofrem. Chorar e rir estão num mesmo patamar.
A sua alma é mais leve que uma pena e plana sobre o solo, atravessando toda a existência física do Universo. É ele, na sua solidão, uma lenda de si próprio.

 

Maria InEs



Depois de concluirmos uma etapa, e porque a vida não pára, chegam novas aventuras e novas descobertas por novos caminhos....
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